e também pelo nosso caráter,
nem às escondidas nos encontramos.
Agora que és um anjo,

podes vir me visitar quando quiseres.
Estarei à tua espera hoje e sempre,
de dia ou à noite, sem peso na consciência,
sem estar traindo ninguém, nem a mim mesma.
Vamos reviver nosso amor, que foi podado
sem aviso, sem que pudéssemos explicar a razão:
Por que? Ninguém sabe...

 

 

REMORSO

Nos momentos de solidão e devaneio, fico a pensar no passado, nas coisas que fiz e deixei de fazer. Lembro de ti mãe, da nossa vida, nossos momentos na minha juventude e nossa vida até a hora de tua partida. Muita coisa boa a ser revivida e outras não tanto. Lembro que após o almoço gostavas de deitar naquele sofá- cama perto da televisão e ali dormias, após ver alguma coisa. Tiravas os óculos, colocava na mesinha e viravas de lado para ficares mais a vontade. Quantas vezes impliquei contigo mãe, dizendo que teu joelho forçando a beirada do sofá iria fazer com que aquela parte ficasse frouxa, caída, diferente do resto. Viravas para o outro lado e eu ficava tranqüila, certa de que o sofá não ficaria

danificado.Hoje vejo que besteira a minha. Que importava aquele sofá medíocre, que hoje está no quarto de empregada, tomando espaço e servindo de depósito de entulho, roupas a passar, caixas vazias, nada que preste. E eu tirava teu conforto para que ele não se estragasse. Se eu soubesse!!! Ah! minha mãe, se eu soubesse que tão pouco tempo mais terias para usá-lo, deixaria que fizesses dele tudo que fosse do teu agrado: pisar, queimar, cortar em pedaços...O que eu não daria mãe, para te ver deitada naquele sofá-cama, espreguiçando ou lendo, vendo televisão ou dormindo. Se eu pudesse te ver, compraria um sofá por dia para que acabasses com ele mas que fosses feliz ali, naquela hora.Como esta lembrança me magoa, me atormenta. E sabes da maior? Ele é mais forte que tudo Colocamos tudo sobre ele, caixas pesadas, ele afunda e depois volta ao normal. Nada estraga aquele pobre coitado que não tem culpa de meu remorso, que nem sabe que era importante naquela época, pois era o sofá da sala de televisão e agora é um traste jogado num canto sem ter uma posição definida dentro de minha casa. Quando vou lá onde está, com certeza ele se ri de mim e fala, sem que eu entenda alguma coisa para me gozar, dizer que é muito resistente, que eu implicava contigo sem saber que ele era mais forte que nós, imortal, que ficaria ao meu lado sempre para que olhando nele eu tivesse remorso de ter sido má contigo,

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