Não é casa de comércio. É uma nova casa, com muita gente. Percebo que serei bem tratado, mas não estou gostando nada daqui...
Será que não vou ver mais meu ex- dono, meu irmão? Na hora em que saí da garagem, parecia que todos estavam tristes. Acho que eles também estão com saudades de mim. Eu não fui o primeiro carrinho de brinquedo dele. Eu fui o primeiro carro de verdade, aquele que satisfez sua curiosidade no trânsito, aquele que lhe ensinou o bê-a-bá de dirigir. Acho que não serei esquecido. Os outros estão lá no meu lugar Eu ouvi meu dono falando, que estava sentindo a minha partida e que nem queria ver. A mãe dele pediu ao rapaz, para arrumar para ela a minha placa BU-5353. Será que, ao menos um pedacinho de mim voltará para o meu primeiro lar? Estou sentindo muita falta deles e percebo, no ar que passa, nesse vento que me toca, que lá longe eles estão pensando em mim com muita saudade...Quase nove anos de convivência diária! As coisas têm alma, mas não sabem falar! Não somos compreendidas... Hoje está um dia frio. Aqui, o vento bate em mim com mais força. Meu ex- dono, meu irmão, está pensando na amizade que nos uniu e relembrando com saudade tudo o que vivemos juntos... Fomos cúmplices em muitas coisas! Sei que não vai me esquecer... Serei sempre o primeiro em seu coração, em suas recordações. A alegria do carro novo não é maior do que a tristeza de me perder. Tenho certeza!

Sou o Chevette azul-petróleo, do 2° semestre de 1.983 - Placa BU-5353 - mais conhecido como VORAZ.

08-02-1992

 

Agora, quero teu carinho...

Teu carinho sempre foi tão puro,
que ao recordar, sinto que estás aqui, perto de mim.
Tua respiração se confunde com a minha
e penso estar vivendo momentos do passado,
este passado que relembro agora.
Ouço tua voz me chamando,
pois era diferente o teu chamado, ao meu ouvido.
Ninguém pronunciava meu nome
com tanta meiguice e carinho.
Em tua voz havia o encanto de tu’alma
e me fazias pensar estar sobrevoando
lugares imaginários...talvez o céu.
No nosso tempo, como era tudo diferente.
Diferente de agora...
Com um olhar entendíamos tudo.
Com um toque de mão víamos estrelas,
mesmo num céu nublado.
Dançando, rosto colado, de leve,

era tão bom... tão bom...
O destino cortou nossos caminhos
e, fomos vivendo, cada um a sua vida.
Separados pelas leis rigorosas da T.F.M.

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